Consignado: o drama de servidores que dependem de empréstimos para pagar as contas

03/04/2023

Do jornal Extra

Não importa se olhamos para servidores federais, estaduais ou municipais, todos carregam uma preocupação em comum: o peso dos empréstimos consignados no bolso. Para muitos, a inflação alta, que fechou o ano passado em 5,79%, e anos sem correção salarial comprimiram o poder de compra, e a operação de crédito surge como uma opção atrativa.

Na casa de um servidor que atua na gerência do INSS em Londrina (PR), que prefere não se identificar, a contração de empréstimos virou rotina desde 2017.

O salário congelado não acompanhou a disparada das despesas, e hoje ele compromete até 70% de toda a renda com empréstimos, entre consignado à folha de pagamento e outros obtidos de forma privada.

Ele vai até o limite da margem consignável direto no contracheque disponível a servidores da União, de 35%, e se vê em uma “verdadeira bola de neve”.

Sem esperança de melhora, ele usa o dinheiro para despesas básicas, como aluguel e alimentação. O último empréstimo, de R$ 9,5 mil, foi contraído em novembro passado, a ser pago até 2024. Ele espera uma ligeira melhora com o reajuste de 9%, mas garante que o valor será para “sobreviver”.

Situação similar é vivida pela pensionista da Polícia Militar do Rio, Denise Mora. Quando perdeu o marido, morto em serviço em 2001, precisou sustentar sozinha uma filha de dois anos e gêmeos. Para cuidar do pagamento de aluguel e das despesas com os filhos, ela sempre dependeu do consignado.

— Como morava em região de risco, tinha que pagar escola particular para os meus filhos, e o consignado foi a forma garantir isso a eles — conta a pensionista que, hoje, compromete cerca de R$ 500 da pensão para quitar empréstimo usado para gastos com saúde e educação.

‘Não penso em pegar outro empréstimo’

Saulo Souza, servidor da Segurança Pública do Rio, precisou contrair o primeiro empréstimo logo que entrou na força, no ano passado, para comprar um carro.

— As parcelas comprometem cerca de R$ 550, em 60 meses, e eu tive que fazer isso porque, hoje, o policial não tem como ficar sem carro. Na época, comprometia 10% da minha renda, não era um dinheiro que estava sobrando. Tanto que não peguei o empréstimo logo que cheguei, e nem penso em pegar um novo hoje, mesmo ganhando mais.

“Minha renda aumentou, mas meus gastos acompanharam. Eu sou casado, tenho uma filha de 3 anos e minha esposa não trabalha. Só somando a escola da minha filha, o plano de saúde que pago por fora e as compras de supermercado, dá quase metade do meu salário”.

Situação no TJ-SP 

Em São Paulo a vida dos servidores do TJ-SP não é diferente.

As perdas salarias acumuladas ao longo dos anos, quando somadas, chegam a uma desvalorização de 32% dos salários.

Significa dizer que 1/3 do salário nem chega na mão do servidor todos os meses.

Ou seja, ele deixa de receber um salário inteiro a cada 3 meses.

Por ano são 4 salários a menos.

E quatro salários a menos por ano faz muita diferença para qualquer trabalhador.

Daí, diante da dificuldade, o servidor acaba encontrando no consignado uma alternativa. Mas uma alternativa que pode prejudicá-lo.

Para a direção da Apatej é preciso que o Tribunal de Justiça de São Paulo olhe com atenção para os seus trabalhadores.

“O TJ-SP deve buscar uma alternativa para repor essas perdas. Mesmo que seja aos poucos, de maneira parcelada, mas que pague essa dívida”, diz o secretário-geral Marinho.